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Crises no autismo causadas pelo barulho: o que fazer para ajudar?

Imagine que você está em casa com uma criança autista e, de repente, o barulho de um carro passando na rua ou o som alto de uma TV desencadeia uma reação intensa. Ela cobre os ouvidos, começa a chorar ou se agita de forma que você não sabe como acalmá-la. Esse cenário é mais comum do que muitos imaginam, especialmente para pais, professores e cuidadores de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). As crises no autismo causadas pelo barulho podem transformar momentos simples do dia a dia em desafios enormes. Mas o que fazer quando isso acontece? Como ajudar de maneira prática e acolhedora?

Eu sei que lidar com essas situações pode gerar dúvidas e até um pouco de desespero. Afinal, ninguém gosta de ver uma criança que ama passando por desconforto. Por isso, neste artigo, vou compartilhar estratégias detalhadas e aplicáveis para você entender por que os sons afetam tanto as pessoas com autismo e como agir para minimizar essas crises. Vamos explorar desde o que acontece no cérebro delas até dicas práticas que você pode usar hoje mesmo, seja em casa, na escola ou em qualquer lugar.

O objetivo aqui é simples: oferecer a você um caminho claro para apoiar quem você cuida, transformando momentos de tensão em oportunidades de conexão. Ao final, você terá ferramentas práticas e um entendimento mais profundo sobre as crises no autismo causadas pelo som, além de sentir mais confiança para enfrentar esses desafios. Vamos começar?

Por que barulhos desencadeiam crises no autismo?

As crianças com autismo muitas vezes percebem o mundo de uma forma única, e isso inclui a maneira como elas processam sons. Diferente de quem não está no espectro, elas podem ter uma sensibilidade auditiva aumentada, conhecida como hipersensibilidade auditiva. Isso significa que barulhos que parecem normais para você, como o ronco de um aspirador de pó, o barulho de um liquidificador ou o som de uma buzina, podem soar ensurdecedores ou até dolorosos para elas. Estudos mostram que cerca de 90% das pessoas com TEA apresentam alguma alteração sensorial, e a audição é uma das áreas mais afetadas.

Essa reação acontece porque o cérebro de uma criança autista pode ter dificuldade em filtrar os estímulos do ambiente. Enquanto você consegue ignorar o som de um ventilador enquanto conversa, para ela, esse barulho pode competir com todo o resto, causando uma sobrecarga. É como se o volume do mundo estivesse sempre no máximo, sem botão para abaixar. Segundo a neuropsicóloga Patrícia Braga, da USP, “o cérebro dos autistas funciona em estado de alerta constante”, o que explica por que um som inesperado pode levar a uma crise rapidamente.

Além disso, cada criança reage de um jeito. Algumas tapam os ouvidos e choram, outras se agitam ou até se isolam completamente — um comportamento chamado shutdown. Já vi casos em que um simples apito na rua fez uma criança correr para o canto do quarto, buscando silêncio. Entender essa conexão entre som e crise é o primeiro passo para ajudar, porque, sabendo o motivo, você pode agir com mais empatia e precisão.

Sinais de alerta: como identificar uma crise chegando

Antes de uma crise no autismo causada pelo som explodir, a criança geralmente dá sinais. Observar esses sinais pode fazer toda a diferença, porque você consegue intervir cedo e evitar que a situação piore. Muitas vezes, ela começa a ficar inquieta, mexendo as mãos de forma repetitiva ou balançando o corpo. Outras cobrem os ouvidos com as mãos ou tentam se esconder embaixo de uma mesa ou cobertor.

Menina autista em crise causada pelo barulho.
Menina autista em crise causada pelo barulho.

Já notei que algumas franzem o rosto ou fecham os olhos com força, como se quisessem bloquear o mundo. Particularmente, minha filha faz isso desde que tinha por volta de 1 ano de idade, quando comecei a perceber os sinais. Ela tapava o rosto e se encolhia toda, em seguida ficava agitada e agressiva.

Outro sinal comum é a mudança no humor. Uma criança que estava calma pode ficar irritada ou ansiosa de repente. Às vezes, ela para de responder quando você fala com ela, como se estivesse “desligada”. Isso pode ser o início de um meltdown (explosão emocional) ou de um shutdown (retraimento). A psicóloga Kmylla Borges, em entrevista ao Correio Braziliense, descreveu o shutdown como um estado em que o corpo fica paralisado e o olhar vazio, algo que pais e professores precisam reconhecer.

Ficar atento a esses sinais exige prática, mas vale o esforço. Por exemplo, percebi que toda vida que eu ligava o liqudificador, minha filha ficava mais agitada. Com o tempo, eu aprendi a agir antes que a crise começasse, e claro sempre peço suporte a alguém da casa para ficar com ela enquanto uso o aparelho. Identificar esses gatilhos sonoros no dia a dia é como montar um mapa: você passa a prever os “pontos de perigo” e se prepara para eles.

Gatilhos sonoros mais comuns

Nem todo som causa crises, mas alguns são verdadeiros vilões para quem tem autismo. Barulhos altos e repentinos, como fogos de artifício ou sirenes, estão no topo da lista. Um artigo do Estado de Minas destacou que, com as festas de fim de ano, o uso de fogos vira um pesadelo para muitas famílias. Outros sons, como o zumbido constante de eletrodomésticos ou vozes altas em ambientes cheios, também aparecem com frequência.

Aqui vai uma lista de gatilhos comuns que você pode observar, assim como eu passei a observar no dia a dia com minha filha.

  • Sons agudos, como apitos ou alarmes.
  • Barulhos contínuos, como ventiladores ou ar-condicionado.
  • Ruídos imprevisíveis, como portas batendo ou cachorros latindo.
  • Multidão falando ao mesmo tempo, como em festas ou recreios.

Conhecer esses gatilhos ajuda a planejar o dia. Se você sabe que vai passar perto de uma obra barulhenta, por exemplo, pode levar algo para proteger a criança do som. Pequenas ações como essa mudam tudo. Para amenizar, as crises da minha filha em relação ao liquidificador, dei a ela um de brinquedo para entender que não é algo tão estranho. Além disso, sempre antes de usá-lo, aviso com antecedência a ela e mostro o aparelho a ela, como funciona e aviso “Mamãe agora vai ligar e vai fazer barulho”. Ela ainda se assustaum pouco, mas já não tem mais crise. Isso são pequenos avanços que fazem grandes diferenças!

Estratégias práticas para prevenir crises no autismo causadas pelo barulho

Agora que você entende por que os sons afetam tanto e quais sinais procurar, vamos falar sobre o que fazer para evitar essas crises. Prevenir é sempre mais fácil do que lidar com uma explosão emocional no calor do momento, e algumas estratégias simples podem trazer alívio imediato. O segredo está em criar um ambiente mais tranquilo e previsível, algo que dá à criança uma sensação de controle.

Criança autista usando fone antirruídos.
Criança autista usando fone antirruídos.

Primeiro, experimente usar protetores auriculares ou fones antirruído. Esses acessórios bloqueiam ou diminuem os sons externos e são uma solução prática para lugares barulhentos, como shoppings ou ruas movimentadas. Um projeto de lei no Brasil (PL 3255/23) até propõe que o SUS forneça fones assim gratuitamente, reconhecendo como eles ajudam na inclusão. Uma mãe me disse que o filho dela, que antes chorava em supermercados, agora anda tranquilo com um fone colorido que ele mesmo escolheu.

Outra ideia é preparar a criança para o que está por vir. Se você sabe que um barulho vai acontecer, como o liquidificador na cozinha que mencionei acima, avise antes. Diga algo como: “Vou ligar o liquidificador por uns segundos, tá bem?” Isso reduz a surpresa, que é um grande gatilho. Além disso, criar uma rotina com menos ruídos inesperados, como desligar a TV quando não está em uso, faz o ambiente ficar mais acolhedor.

Ferramentas para reduzir o impacto dos barulhos

Além dos fones, outras ferramentas podem ajudar. Aplicativos de ruído branco, por exemplo, emitem sons suaves, como chuva ou ondas do mar, que mascaram barulhos irritantes. Você pode baixar um no celular e testar em casa. Lembro-me que, quando minha filha era bebê e eu ainda nem sequer sabia que ela era autista, costumava colocar esses ruídos brandos para ela dormir, porque um simples pingar na torneira já era o suficiente para acordá-la. Com os ruídos brandos, ela conseguia dormir por mais tempo.

Outra opção é montar um “cantinho da calma”, um espaço com almofadas, cobertores e brinquedos sensoriais onde a criança pode se refugiar quando o som fica demais. Uma professora me contou que fez isso na sala de aula e viu os alunos autistas relaxarem mais rápido.

Se o orçamento permitir, invista em materiais que abafam o som, como cortinas grossas ou tapetes. Eles diminuem a intensidade dos ruídos que vêm de fora. Pequenas mudanças assim transformam a casa ou a escola em um lugar mais seguro para quem tem sensibilidade ao som.

Como agir durante uma crise causada por barulho

Mesmo com prevenção, às vezes as crises no autismo causadas pelo barulho acontecem. Quando isso ocorre, o mais importante é manter a calma, a sua tranquilidade passa segurança para a criança. Primeiro, leve-a para um lugar mais silencioso, se possível. Pode ser um quarto, um corredor ou até o carro, desde que o barulho diminua. Fale com voz baixa e suave, evitando perguntas ou ordens que exijam resposta imediata, como “O que aconteceu?” Ela pode estar sobrecarregada demais para responder.

Mãe dando suporte emocial ao filho em crise causada pelo barulho.
Mãe dando suporte emocional ao filho em crise causada pelo barulho.

Ofereça conforto físico, mas com cuidado. Algumas crianças gostam de um abraço apertado, que dá uma sensação de contorno corporal e acalma o sistema nervoso. Esse é o caso da minha filha, ela sempre pede abraço. Outras preferem espaço, então observe o que funciona para ela. A terapeuta Livia Aureliano, citada no Estado de Minas, sugere demonstrar afeto de forma que a criança se sinta protegida, como segurar as mãos dela gentilmente enquanto explica: “O som vai passar logo.”

Sugiro que evite falar muito, principalmente para as mais pequenas que ainda não conseguem compreender os motivos do barulho e que eles passam. Somente ofereça o conforto e segurança.

Técnicas de regulação emocional

Durante a crise, técnicas simples ajudam a trazer a criança de volta ao equilíbrio. Respirar devagar junto com ela é uma delas, inspire por quatro segundos, segure por quatro e solte por mais quatro. Isso regula o corpo e a mente. Outra opção é usar objetos sensoriais, como uma bola macia ou um brinquedo de apertar, para desviar a atenção do som. Uma vez, vi um pai distrair o filho com um potinho de bolhas de sabão, e o menino parou de chorar enquanto observava as bolhas flutuarem.

Se a crise for intensa, anote o que aconteceu depois. Isso ajuda a identificar padrões e ajustar as estratégias. Por exemplo, você pode perceber que o som de uma sirene sempre desencadeia a mesma reação, e aí planejar melhor para a próxima vez. Não há uma receita pronta, a experiência e a observeção atenta é que mos ajuda a estabelecer estratégias de manejo de crise.

Envolver a criança na solução: autonomia e comunicação

Uma das coisas mais poderosas que você pode fazer é incluir a criança no processo. Se ela consegue se comunicar, pergunte o que a ajuda a se sentir melhor quando o barulho incomoda. Algumas dizem que querem silêncio total, outras pedem um cobertor ou música baixa. Mesmo as que não falam podem mostrar preferências, preste atenção nos gestos ou expressões delas.

Ensine sinais simples para ela usar quando o som estiver demais. Pode ser levantar a mão ou apontar para os ouvidos. Isso dá a ela um jeito de pedir ajuda sem precisar falar, o que é ótimo em momentos de estresse. Minha filha sempre pega o seu cobertor e coloca na cabeça e fica bem quietinha na cama e pede logo para abraçá-la bem forte. Aos poucos, ela vem ganhando mais autonomia, e as crises diminuindo.

Construindo uma rede de apoio

Não enfrente isso sozinho. Converse com outros pais, professores ou até terapeutas sobre o que funciona. Grupos online, como os da Revista Autismo, são ótimos para trocar experiências. Se a criança vai à escola, combine com os professores um plano para lidar com crises no autismo causadas pelo barulho da escola. Por exemplo, eles podem avisar antes de tocar o sinal ou reservar um espaço calmo para ela. Quanto mais gente estiver alinhada, mais fácil fica.

Conclusão: transformando desafios em conexões

Voltando àquelas perguntas do começo: por que os barulhos incomodam tanto? Como saber que uma crise vem aí? O que fazer para ajudar? Espero que esse artigo tenha te ajudado e agora você sinta que tem respostas mais claras. Entender que as crises no autismo causadas pelo barulho vêm de uma sensibilidade real, e não de “teimosia”, muda a forma como você encara esses momentos. Com as estratégias que compartilhei, como usar fones, criar cantinhos de calma ou simplesmente respirar junto, você pode transformar situações difíceis em oportunidades para se conectar com a criança.

Cada pequeno passo conta. Talvez hoje você consiga evitar uma crise só avisando sobre um barulho, ou talvez amanhã veja ela pedindo ajuda sozinha. Esse processo é uma jornada, e você está fazendo um trabalho incrível ao buscar formas de apoiar quem ama. Que tal contar nos comentários o que já funcionou para você ou perguntar algo que ainda está na sua cabeça? E, se achou essas ideias úteis, compartilhe este artigo nas suas redes sociais, pode ser que outra pessoa precise disso tanto quanto você! Obrigada pela leitura e até a próxima!

  • Para mais informações sobre autismo e suas características, confira o Blog Autismo em Pauta. Aqui você encontrará recursos e informações valiosas sobre o tema.

Referências Bibliográficas

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Quem escreve
Lídia Maria - fundadora e redatora do blog.

Lídia Maria Lima

Fundadora do Blog e Escritora

Educadora, escritora e defensora da inclusão, Lídia é pedagoga com especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Com um coração dedicado ao universo atípico, transforma sua expertise acadêmica e vivência pessoal em pontes de compreensão e acolhimento.

Mãe de Maya Louise, uma menina de 3 anos cheia de luz (TEA Nível 2 de suporte), e de Luís Otávio, adolescente de 16 anos autista (Nível 1), ela conhece na prática os desafios e triunfos da neurodiversidade. No blog Autismo em Pauta, Lídia compartilha conhecimento, experiências e esperança, um farol para famílias e autistas que buscam informações e acolhimento.

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